Existem várias combinações de 5G no Brasil, e seu futuro celular pode ser incompatível


A sopa de letrinhas dos padrões de 5G (Imagem: Guilherme Reis / Tecnoblog)

O 5G chegou ao Brasil, finalmente! Mas se prepare para uma sopa de letrinhas: existem três categorias de quinta geração em operação no país. Após a liberação da frequência de 3,5 GHz, Claro, TIM e Vivo ativaram o 5G Standalone em Brasília, que funcionará ao lado do 5G Non-Standalone e do polêmico 5G DSS.

Afinal, o 5G DSS que temos no Brasil é “5G de verdade”?Quer usar o 5G Standalone da Claro? Você terá que mudar seu plano

5G impuro vs. 5G puro

O primeiro 5G foi lançado no Brasil em 2020 com a tecnologia DSS. Trata-se de uma sigla para Dynamic Spectrum Sharing, ou compartilhamento dinâmico de espectro. O padrão funciona com as mesmas frequências já utilizadas pelas operadoras com o 4G, 3G e/ou 2G.

A experiência de uso do DSS não é das melhores: por conta do baixo espectro, a velocidade é pouca coisa maior que no 4G+. Em alguns momentos, costuma ser até mesmo mais lenta que a geração anterior.

Pela experiência de uso ruim e a ausência de frequências dedicadas, o 5G DSS é considerado por alguns como 5G “impuro” ou até mesmo “5G falso” — mesmo atendendo os requisitos da 3GPP, organização mundial que determina especificações para tecnologias móveis.

Speedtest de 5G DSS da Vivo em Belo Horizonte (Imagem: Lucas Braga / Tecnoblog)

Por outro lado, temos o 5G “puro”, com frequências dedicadas. E aqui a sopa de letrinhas fica ainda mais confusa: Claro, TIM e Vivo lançaram o novo 5G tanto no padrão Non-Standalone (SA) como Standalone (SA).

Um dos requisitos do edital do leilão da Anatel determina que as operadoras utilizassem as especificações do release 16 da 3GPP, padrão que consolida o 5G Standalone.

Com os dois padrões ativos, o 5G presente no seu smartphone atual ou futuro pode não se tratar do “5G Ferrari” que foi prometido aos brasileiros pelo ministro das Telecomunicações, Fábio Faria.

As diferenças entre o 5G SA e 5G NSA

A escolha mais óbvia para o início da quinta geração é o 5G NSA. O padrão permite uso de frequência dedicada, configurando um 5G “puro”, mas ainda utiliza o mesmo núcleo de rede (core) que controla o 4G.

O 5G SA, padrão exigido pela Anatel, é o mais recente e moderno, mas exige um núcleo de rede dedicado para a quinta geração. Por isso o formato Standalone é mais caro e difícil de ser instalado, já que as operadoras não conseguem aproveitar a infraestrutura do 4G.

? De acordo com a Ericsson, o núcleo (core) é praticamente um “coração” de uma rede móvel, pois concentra servidores e equipamentos necessários para permitir a comunicação do usuário final com os demais serviços.

iPhone conectado no 5G da Claro (Imagem: Lucas Braga / Tecnoblog)

Para um usuário comum de smartphone, a experiência de uso do 5G SA e do 5G NSA é muito parecida. Ambos os padrões incluem a eMBB (Enhanced Mobile Broadband, ou banda larga móvel melhorada), que permite maiores velocidades de internet móvel e menor ping.

Ainda assim, o 5G SA tem suas vantagens. Uma das principais características é o slicing, que permite dividir a rede em várias sub-redes. Esse atributo será importante para a adoção massiva da quinta geração em dispositivos de Internet das Coisas, principalmente para uso industrial com redes privativas.

Outro benefício do 5G SA é que a latência pode ser ainda mais baixa, viabilizando atividades que exigem baixo tempo de resposta — como cirurgias remotas, por exemplo. A velocidade de acesso também pode ser maior, especialmente se combinado com frequências mmWave, como fez a T-Mobile nos Estados Unidos.

Um grande problema: compatibilidade de aparelhos

Você deve estar se perguntando: se o 5G SA é mais moderno e foi exigido pela Anatel, por que as operadoras também ativaram o 5G NSA? Um dos motivos é que existem poucos aparelhos compatíveis com o formato Standalone.

De acordo com a TIM, cerca de 70% dos smartphones de seu portfólio possuem compatibilidade com 5G. No entanto, a abrangência cai significativamente quando se trata do 5G SA: apenas os modelos mais recentes da Samsung (linha S22 e dobráveis Z Flip/Fold 3) e cinco aparelhos da Motorola suportam o padrão.

Na Claro, a lista compatibilidade com o 5G SA é… estranha. São seis modelos da Motorola, além dos dobráveis Galaxy Z Flip/Fold 3 e a linha Galaxy S21. Se você tem um Galaxy S22, que é mais novo que um Galaxy S21, nada de Standalone por enquanto.

Samsung Galaxy S22+ funciona com 5G SA, porém depende (Imagem: Darlan Helder/Tecnoblog)

A Vivo não divulga uma lista de compatibilidade que especifica a compatibilidade com o padrão 5G SA. Em dezembro de 2021, o Tecnoblog obteve acesso a uma cartilha enviada a funcionários que informava a compatibilidade para a linha iPhone 13, Samsung Galaxy S21 e Galaxy Z Flip/Fold3.

Com toda essa sopa de letrinhas e compatibilidade que varia entre operadoras, é difícil ter certeza que seu futuro smartphone será compatível com o 5G SA. A Anatel divulga um painel com os celulares homologados aptos a acessar a quinta geração, mas não especifica entre DSS, NSA e SA.

Alguns smartphones precisam ser atualizados para suportar 5G SA

Na prática, vários aparelhos atuais possuem hardware compatível com o 5G SA, mas para funcionar com o padrão será necessário receber uma atualização de software que habilite a tecnologia. É o caso dos iPhones, por exemplo, que no exterior já funcionam normalmente com o Standalone.

A situação fica mais complexa quando se trata de aparelhos Android. Em algumas versões do sistema, o smartphone é compatível com o 5G SA apenas em determinadas operadoras — é o caso do Galaxy S22, que funciona na TIM, mas não na Claro.

Atualização de software em Samung Galaxy (Imagem: André Fogaça / Tecnoblog)

As atualizações de software dos smartphones podem ou não acontecer, e dependem da boa vontade das fabricantes e das operadoras. Ou seja: é possível que seu celular nunca veja sinal 5G SA, mesmo que ele tenha hardware compatível.

É claro que a gente sempre quer o melhor possível, mas não fique triste caso seu aparelho permaneça com 5G NSA. Você ainda assim conseguirá aproveitar as principais vantagens do 5G puro, como velocidades maiores e menor latência.

E o 5G de ondas milimétricas?

Além da frequência de 3,5 GHz, a Anatel também leiloou a faixa de 26 GHz, que pode ser utilizada com o 5G mmWave. No entanto, as operadoras não parecem preocupadas em adotar a tecnologia tão cedo.

Por utilizar frequências muito altas, a penetração de sinal do 5G mmWave é baixíssima, exigindo uma grande quantidade de antenas. A conexão também é afetada por obstáculos básicos, como vidros e árvores.

Até o momento, nenhum smartphone compatível com 5G em 26 GHz foi homologado pela Anatel. Até mesmo no exterior é difícil encontrar: a linha iPhone até suporta o mmWave, mas apenas em aparelhos comercializados nos Estados Unidos.

Existem várias combinações de 5G no Brasil, e seu futuro celular pode ser incompatível


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